terça-feira, 4 de novembro de 2014

Querendo justificar-se

Lucas 10: 25 E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe:Mestre, que farei para herdar a vida eterna? 26  Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? 27  A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. 28  Então, Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás.29  Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: Quem é o meu próximo? 30  Jesus prosseguiu, dizendo: Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e veio a cair em mãos de salteadores, os quais, depois de tudo lhe roubarem e lhe causarem muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o semimorto. 31  Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho e, vendo-o, passou de largo. 32  Semelhantemente, um levita descia por aquele lugar e, vendo-o, também passou de largo. 33  Certo samaritano, que seguia o seu caminho, passou-lhe perto e, vendo-o, compadeceu-se dele. 34  E, chegando-se, pensou-lhe os ferimentos, aplicando-lhes óleo e vinho; e, colocando-o sobre o seu próprio animal, levou-o para uma hospedaria e tratou dele. 35  No dia seguinte, tirou dois denários e os entregou ao hospedeiro, dizendo: Cuida deste homem, e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar. 36  Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores? 37  Respondeu-lhe o intérprete da Lei: O que usou de misericórdia para com ele. Então, lhe disse: Vai e procede tu de igual modo.





Esta é a descrição da parábola do bom samaritano, contada por Jesus, para explicar e responder a uma questão feita por um doutor da lei. A parábola muitos conhecem: um homem ferido foi ignorado por 2 homens religiosos e auxiliado por um samaritano (povo inimigo dos judeus), o qual foi o seu próximo, naquele momento. Não quero falar hoje da parábola em si, cujo ensinamento é maravilhoso e extraordinário.

Mas quero convidar você a atentar para um detalhe nesta descrição bíblica. O momento que o escritor Lucas, ao descrever a réplica do doutor da lei no verso 29, diz que ele "queria justificar-se". O que será que Lucas queria dizer com isso? O intérprete (ou doutor) da lei queria se justificar do quê? 

Primeiro quero atentar para um detalhe interessante. Naquela época, poucas pessoas tinham condição de escrever. Não apenas porque uma grande parte não sabia escrever, mas porque era muito caro ter um pedaço de papiro e poder escrever. Portanto, o simples fato de saber escrever e cumprir com a tarefa de copiar os textos da bíblia (o trabalho de um escriba) já era suficiente para colocar o escriba numa posição superior à maioria das pessoas, que sequer tinham acesso para ler os textos bíblicos. O fato de um escriba fazer cópias diversas vezes de um texto bíblico durante a vida, fazia com que ele conhecesse os textos bíblicos com mais detalhes. Mas o escriba apenas copiava. 
Um intérprete da lei fazia comentários, explicações, interpretações da lei. Muitos escribas eram intérpretes também. Mas essas interpretações nem sempre eram corretas. E nem sempre aprovadas por Jesus. Claro que toda ajuda para entender melhor a bíblia foi e é até hoje bem vinda. Mas quando o intérprete faz questão que sua explicação bíblica fique acima da própria bíblia, como muitos na época de Jesus queriam, então são reprovados pelo Mestre Senhor Jesus. 
Muitas destas interpretações, ao longo dos anos entre os judeus, tornaram-se em tradições, as chamadas tradição dos homens ou tradição dos anciãos. Jesus as condenou praticamente todas. Principalmente quando estas tradições eram contrárias à Palavra de Deus genuína. Aliás, esta reprova de Jesus a estas tradições e às interpretações dos doutores da lei foi o motivo da pergunta do intérprete da lei neste texto de Lucas 10, quando Jesus conta a parábola do Bom Samaritano. 

Explico: 

O diálogo entre Jesus e o intérprete iniciou com uma pergunta desafiadora por parte do intérprete, feita a Jesus: "que farei para herdar a vida eterna?". Jesus mesmo devolve com outra pergunta, invocando o que a própria Lei (A Palavra de Deus) dizia a respeito, e questiona de volta o intérprete perguntando: "O que a Lei diz?", ou seja, Jesus queria dizer: "não estou aqui para ensinar nenhuma novidade. O que eu vim cumprir já foi dito na lei". Jesus não trouxe nova lei, mas o cumprimento da lei. A resposta direta do intérprete foi: "amar a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo" era direta, como está na Palavra de Deus. Jesus também foi direto: "pratique isto e viverás", ou seja, seja cumpridor da Palavra, faça isso em sua vida no seu dia a dia. Tanto pergunta quanto a resposta são muito diretas. 
Amar a Deus e ao próximo: faça isso.
Não é apenas dizer sobre isso, discursar sobre isso, ler ou analisar sobre o amor a Deus e ao próximo. É viver isso. É fazer isso. É praticar isso. 
Mas não para um intérprete da lei. Para um homem desses, a resposta é muito mais complexa. Ele até poderia ter questionado Jesus sobre a verdadeira natureza do amor: o que é amar, na prática? Como faço para demonstrar meu amor ao próximo. Mas ele não estava interessado em obter respostas. Ele queria justificar-se. 

Como assim, justificar-se? Ele queria provar que um intérprete da lei era uma função essencial e totalmente necessária, pois, na opinião dele, não se poderia tratar uma questão destas da forma tão simples e direta como Jesus fazia. A questão implicaria em outras questões. E a questão que o intérprete da Lei fez a Jesus, para justificar-se, foi: "quem é meu próximo?". 
Ele poderia ter perguntado sobre a natureza do amor, sobre sua prática, sobre como demonstrar a Deus nosso amor, já que não podemos ver a Deus, sobre como fazer isso com todas as forças. Mas nada disso parece importar para o intérprete da lei. Para ele, o importante era saber quem era o seu próximo. 
Ou seja, será que um estrangeiro era o próximo? e um inimigo? um parente distante talvez? quem estava, de verdade, dentro da definição de "meu próximo"? na verdade, os intérpretes da época já tinham uma resposta para isso. Uma não. Algumas. Uma verdadeira lista, impossível de decorar, dizendo que esse ou aquele era ou não meu próximo tornavam essa lei de Deus algo variável ao gosto da definição de quem é meu próximo. Ou seja, se devo amar meu próximo como a mim mesmo, mas se um samaritano, por exemplo, não é meu próximo, então não preciso amá-lo. Por isso, muitos intérpretes gastavam muito tempo tentando descobrir quem podia ser considerado como o próximo. Porque, se uma determinada pessoa não vier a ser considerada meu próximo e eu decidir não amá-la, não estarei desobedecendo a lei. 

Na verdade, então, se eu perceber que tal pessoa não é meu próximo e resolver não amá-la, então estou ok. Esta era a justificativa do intérprete da lei. Mais do que isso, era como se ele quisesse dizer: "tá vendo, Jesus, esta questão não é tão simples. Não dá para dispensar a necessidade dos intérpretes da lei, porque somos nós, os intérpretes que ajudamos as pessoas a entenderem realmente como cumprir a lei". 

Mas Jesus responde contando uma história. Nesta história, coloca um inimigo do povo judeu para ajudar um judeu machucado, que tinha sido abandonado por um levita e um sacerdote (membros do clero). E o intérprete, vendo a prática da lei num exemplo vívido do dia a dia contado por Jesus, precisa reconhecer que o próximo daquele homem, naquela situação, era o samaritano. E os samaritanos, naquela época, não faziam parte da lista dos intérpretes para alguém próximo de um judeu. Era um inimigo! Mas Jesus o coloca como próximo. 

E agora? Jesus mostra que, na verdade, esta questão é muito mais prática e real do que dezenas de interpretações necessárias. É fazer. Não é ficar teorizando. A teoria é importante, mas apenas quando fornece valor e firmeza para a prática. A teoria do intérprete precisava se transformar em prática. A tentativa dele de se justificar não deu muito certo. Encontrou o Mestre dos mestres pelo caminho e teve de reconhecer que todas suas listas de pessoas que podiam ser consideradas próximas, tinham sido destruídas por Jesus em seu exemplo. 

Glória a Deus. 

Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.




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