sexta-feira, 6 de julho de 2018

Um Profeta com Depressão



Muitos falam, atualmente, que a depressão é uma doença do homem moderno. Ouço muitos dizerem de servos de Deus, crentes ou mesmo pastores que sofrem ou sofreram de depressão. Muitos outros crêem não ser possível um servo de Deus passar por isso ou sofrer de depressão. Mas será que na bíblia temos exemplos de pessoas que sofreram deste mal?
Claro que na época não haviam clínicas psicológicas nem terapeutas que pudessem diagnosticar o estado psíquico de desânimo mortal que caracteriza a depressão. Mas será que alguns sinais não nos mostram que essa não é uma exclusividade do homem moderno?
Não teria Elias, o profeta, sofrido de depressão ao se esconder de Jezabel, pedindo a Deus a morte, dizendo não ser melhor que seus pais? Neste caso, o sentimento foi decorrente de um grande esforço e consequente desgaste emocional e espiritual, resultado da luta contra os profetas de baal e da ameaça de Jezabel, de que lhe tiraria a vida. Muitos dizem, nos dias de hoje, que um estresse ou desgaste decorrente de um grande esforço por muito tempo podem levar a um estado depressivo.
Alguns dos sinais característicos da depressão presentes em Elias estava o desânimo e pessimismo (“não sou melhor que meus pais”, foi o que ele disse, apesar de ter enfrentado e vencido centenas de profetas), além de vontade de dormir, uma e outra vez, mesmo após ter se alimentado. Ele se deitou e o anjo precisou ordenar “levanta-te” 2 vezes. Deus respondeu a Elias, enviando um anjo para alimentá-lo e orientando ele a continuar caminhando. Não parar. Não desistir. Continuar. Em outro momento, olhamos melhor o exemplo de Elias.
Será que Jonas, o profeta que Deus enviou a pregar em Nínive, não estava sofrendo de depressão mesmo quando Deus o enviou a pregar? Neste caso, creio que os detalhes apresentados nesta história são muito mais incisivos. Vamos olhar o texto bíblico presente na história de Jonas para ver os sinais que demonstram seu estado depressivo.
1. Levanta-te. A palavra que veio a Jonas iniciou com a ordem: “levanta-te” (vs 2) e depois Deus disse: “vai à cidade de Nínive”. Bem, se a ordem era para se levantar, significa que ou ele estava deitado, sentado, ou inerte, parado, ou rendido, entregue. Poderia também estar tomado da glória de Deus, prostrado. Mas esta última opção é descartada pelos sinais que esse seguem.
É bom lembrar que para nenhum outro profeta a ordem começa com “levanta-te”. Nos outros livros proféticos, Deus inicia sua mensagem diretamente, sem rodeios, indo direto ao assunto. A única vez que vemos essa ordem acontecer, além do caso de Jonas, foi com Elias, quando se entregou e desejou morrer após a ameaça de Jezabel. Deus enviou o anjo, que lhe entregou alimento e o ordenou a se levantar (I Reis 19: 5, 7).
A atitude de estar entregue, prostrado é própria de alguém com características depressivas. Assim estava Jonas quando o Senhor o chamou para levar a mensagem a Nínive.
2. Fuga. O verso 3, após a ordem de Deus para que ele fosse para Nínive, nos mostra que Jonas fugiu de diante do Senhor, da ordem do Senhor, fugiu de seu novo desafio, de sua nova tarefa. A bíblia não usa a palavra “desobedecer” como, aliás, está no consciente coletivo de quem ouve e lê a história de Jonas. Ele fugiu. Queria tentar ficar longe do problema, da tarefa, da dificuldade, do desafio, do enfrentamento.
Note que provavelmente Jonas já era um profeta, que teria sido usado por Deus. Não há, no início do livro de Jonas, a característica de uma chamada para a tarefa, como quando Deus fala e explica a Jeremias seu chamado, dizendo ter sido escolhido no ventre de sua mãe, ou quando Deus faz todo um preparo para o chamado, como ocorreu com Isaías. Após falar levanta-te, Deus deu uma ordem direta, como se Jonas simplesmente já soubesse o que deveria fazer ou o que significaria o cumprimento daquela ordem. Aliás, o próprio profeta declara saber as consequências da ordem que recebera no final do livro (Jonas 4: 2). Não agiu como um profeta ou pastor iniciante, no afã de cumprir com uma ordem dada por Deus. Pelo contrário: fugiu.
A fuga e a negação das tarefas é uma outra característica de quem está depressivo.
3. investir na depressão. Quem está neste estado, nega-se a investir para sair desta situação, mas não vê dificuldade em investir para aprofundar o estado em que se encontra. Jonas não teve dificuldade em pagar por uma passagem para fugir da ordem de Deus. Pagou. Investiu na própria doença, em favor da derrota! É um investimento inconsciente. Pois só investimentos naquilo em que acreditamos. Seja investimento financeiro, seja de tempo ou recursos humanos. Ou seja, Jonas acreditava mais na fuga do que no cumprimento da tarefa a ele dada.
Quem está com dificuldades de ver uma “luz no fim do túnel”, por causa de algum problema, tende a investir na manutenção do seu problema, ainda que inconsciente. É como se desejasse provar a todos que “realmente está sofrendo” ou mostrar que seu sofrimento é justificável. Inconscientemente, busca meios de se manter naquela situação.
Quem está depressivo, não hesita em investir no seu estado depressivo. Tem por hábito alimentar e reforçar esta situação pelas atitudes e, se necessário, até mesmo investindo dinheiro. Mas geralmente tem muita dificuldade para investir tempo e dinheiro naquilo que poderia tirá-lo da situação em que se encontra. Geralmente, sequer consegue enxergar estas opções.
4. Porão do navio. Este é, talvez, o sinal mais marcante e decisivo para nos mostrar que o que Jonas sentia era uma grande depressão. Em plena tempestade, que Deus havia enviado por conta da desobediência de Jonas, enquanto toda a tripulação e passageiros trabalhavam para tentar salvar o navio e suas próprias vidas, ele conseguiu ir até o porão, até o lugar mais profundo do navio, mais isolado e distante (Jonas 1: 5). O porão era o último lugar que um marinheiro gostaria de estar em um momento de eminente naufrágio. Mas foi ali que Jonas escolheu estar. Talvez ele quisesse ver se atrairia a morte mais rapidamente. Não se envolveu na tentativa de salvação, na busca por uma solução como todos os outros faziam. Isolou-se e ficou ali.
E não foi só isso. Jonas conseguiu dormir um profundo sono em plena tempestade! Não era um sono da confiança, como o que Jesus dormiu no barco enquanto Ele e seus discípulos quase naufragaram na tempestade (Mateus 8;24). Era o sono da entrega, da desistência. Ele não se importava se o navio afundaria. Se ele sobreviveria. Não estava nem aí. No lugar mais fundo do navio. Era o sono profundo do desânimo. O mundo se acabava lá fora, mas Jonas não se importava. Não queria sair da sua letargia. Quem está depressivo, também dorme profundamente. Tanto metaforicamente quanto literalmente.
5. A reação dos companheiros. Quem está próximo, reage ao tipo de atitude que a pessoa com depressão tem. Na maior parte das vezes, fica impaciente com a atitude de quem está depressivo, estranha seu comportamento como algo fora do normal e pede para que a pessoa depressiva tome uma posição diferente. Vejamos. O mestre do navio disse para Jonas: “que tens, dormente? Levanta-te, invoca o teu Deus” (Jonas 1: 6). Primeiro estranhou sua atitude (que tens), depois caracterizou-o (pejorativamente) de “dormente”. Pedindo então para que se levantasse, incitou-o a buscar a Deus.
Quem está por perto, percebe a atitude negativa, depressiva. Geralmente exige uma reação, uma atitude diferente. Mas, assim como Jonas, geralmente o depressivo só investe mesmo é na depressão. Não na reação. A reação das pessoas ao redor de Jonas também nos mostram que ele estava neste estado depressivo.
6. Joguem-me no mar. O desejo de entregar sua própria vida, Jonas pede para que os marinheiros o joguem no mar. Ele queria morrer, embora não quisesse que os outros sofressem por causa dele. Mas aqui vale uma lembrança: é impossível ao depressivo se isolar e não afetar ninguém com seu estado. Ele acaba por afundar o barco de todos os que estão próximos. Sua situação arrasta a si mesmo e, não poucas vezes, os outros que estão ao redor, para o fundo do mar do desânimo, ou da destruição.
Ele continuava querendo fugir de Deus. Desta vez, tentando a morte. Jonas, ao pedir para jogarem ele no mar, não imaginou que seria engolido pelo grande peixe. Jamais pensou na forma como Deus trataria esta situação. Imaginou, como seria natural pensar, que morreria afogado. No fundo, esse era o seu desejo. Pediu que o matassem, já que um suicídio tem consequências desastrosas para a alma. Mas que ele desejou aberta e explicitamente a morte, dando a desculpa que isso seria a solução para todos os problemas, isso desejo, como fazem muitos que sofrem de depressão.
7. Assumir a culpa de tudo. No verso 12 diz que Jonas sabia que por causa dele estava ocorrendo aquela tempestade. Embora a auto-comiseração e uma insistência em se sentir culpado por tudo sejam características de uma pessoa depressiva, neste caso Jonas estava certo. Era realmente um julgamento de Deus por causa da sua desobediência. Mas também foi a maneira que Deus encontrou para tratar com Ele e salvar Nínive. Mas não significa que, de uma forma geral, não seja esta uma característica de uma pessoa depressiva: se culpar por tudo.
Jonas, como todo aquele que sofre em depressão, culpava-se pela situação. Na visão dele, como geralmente ocorre na mente de muitos que sofrem de depressão, a tempestade que assola os outros ao seu redor, é culpa sua. “por minha causa lhes sobreveio esta tempestade”. Me atirem ao mar que tudo se resolverá. Me matem que vocês ficarão bem. E o mais interessante, não é que Deus realmente acalmou a tempestade. Mas Jonas não tirou a própria vida. Se colocou nas mãos daqueles que estavam viajando com ele.

Bem, neste momento, estamos apenas identificando uma situação através dos sintomas que podemos ver na vida de Jonas, conforme registrado no livro bíblico que recebe seu nome. Esperamos, nos próximos estudos, analisar as consequências da depressão, a forma como Deus trabalha nessa situação e como sair disso, de acordo com as lições do próprio livro de Jonas e da situação de Elias. Mas podemos usar este primeiro estudo para tentar identificar em nosso ministério ou de outros, ou mesmo na vida de outros irmãos da igreja, a presença de uma depressão que precise de tratamento.
Que Deus nos abençoe.








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domingo, 1 de julho de 2018

Muitos fracos e doentes




Quando Paulo estava tratando dos problema na Igreja de Corinto (que não eram poucos), em determinado momento precisou lidar com a situação que ocorria na Santa Ceia deles (na época, era chamada de a festa do amor, e continha muito mais do que o partilhar de um pequeno cálice de suco de uva e um pedaço de pão). O capítulo 11 de I Coríntios trata disso, entre os versículos 17 e 34 e trata da questão de uma forma bem ampla. No momento, vamos lidar com apenas 1 dos aspectos aqui citados.
Trata-se do que ele cita no verso 30: “Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem.”. E precisamos ler um trecho um pouquinho mais amplo, entre os versos 28 e 32, para entender melhor esta parte. “28Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. 29Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. 30Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. 31Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados. 32Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.
Podemos ver Paulo preocupado com o fato de haver na igreja muitos fracos e doentes e outros que até já dormem. Paulo está falando de enfermidades espirituais principalmente, não ignorando outros tipos de fraquezas, doenças e “sonolências”. Se olharmos para a carta toda escrita aos coríntios, poderemos entender que haviam muitos problemas ali. Muitas enfermidades espirituais, sociais, morais. Provavelmente físicas também, mas estas já eram secundárias, dados os problemas todos nas outras áreas, considerados centrais por Paulo. Os que dormem, citados por Paulo, eram aqueles que já não davam mais atenção ao que era realmente importante. Haviam relegado o que era essencial para segundo plano e estavam dando atenção para coisas secundárias. Mas Paulo traz tudo à centralidade: Existe um motivo para fraquezas, enfermidades e sonolências.
Ainda precisamos lembrar que este capítulo 11 de Paulo antecede aos capítulos 12 a 14 da carta, que tratam dos dons e da necessidade de demonstrar amor através dos dons. Essa é uma outra questão muito importante para entender o que ele fala da Santa Ceia, mas por hora, apenas lembre disso. Não vamos entrar em detalhes por enquanto.
Paulo diz que o motivo desses problemas todos é comer e beber a ceia indignamente, trazendo para si mesmo condenação, pela falta de discernimento do corpo de Cristo (vs. 29). E a pessoa acaba fazendo isso porque não pratica um auto exame de sua vida, que leve ao arrependimento e mudança de atitude. Mas creio que para entendermos isso, precisamos ter mais claro o que Paulo queria dizer com “discernir o corpo de Cristo”. E, neste momento, para entender, precisamos lembrar que Paulo está escrevendo para uma igreja individualista, dividida, com muitos dons entre seus integrantes, os quais não sabiam, entretanto, usar os mesmos dons dados pelo Espírito para o bem do Corpo todo. Mas procuravam fazer uso egoísta dos dons, trazendo todos os problemas. Paulo diz no cap. 13 que o uso dos dons sem amor não vale de nada. Aqui em 11: 29, diz que a falta de discernimento, a falta de um entendimento correto do corpo de Cristo traz condenação. E esta condenação gera fraqueza, enfermidade e sonolência espiritual, emocional e física.
A igreja de Corinto estava doente. Paulo tentou ajudar eles a se curarem.
Muitas igrejas hoje estão doentes. Precisam da cura do Senhor. Mas precisam também entender como fazer uso do remédio correto. Fazer o tratamento correto. E, para ser igreja, é preciso entender o que é igreja, o que é discernir o corpo (a igreja). Discernir é entender a igreja. Entender sua participação neste corpo e agir corretamente. Se eu digo que faço parte de um corpo, mas não ajo conforme as regras do Senhor, começo a colocar este corpo em perigo. Imagine um rim tentando fazer o trabalho do coração. Não daria certo e traria problemas ao corpo. Da mesma forma, no corpo de Cristo (a igreja), cada um precisa entender sua participação, discernir o corpo. Agir corretamente. Só assim, evitará problemas. Se não discernimos o corpo, mas participamos da Ceia, como expressão máxima da nossa união com Cristo e entre os irmãos mas, nesta expressão, participamos de forma errada (sem discernir), então trazemos condenação para nós mesmos e problemas para o Corpo todo. Ou seja, se você é chamado para servir com diácono, mas insiste em querer ser um pregador, forçando uma situação que não foi direcionada pelo Senhor, então estará no lugar errado e causará problemas. E há tantos outros exemplos de situações problemas como esse.
Na igreja, há fracos e doentes, há os que dormem. Porque não entendem o corpo (a igreja), nem a sua participação neste corpo. Este entendimento é essencial. Era o centro do início da cura para a igreja de Corinto. E o é para muitas igrejas hoje em dia.
Deus nos abençoe.






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