segunda-feira, 13 de abril de 2020

Filemon – um pedido especial, à consciência


A carta do apóstolo Paulo ao seu amigo Filemon tem apenas 1 capítulo, um dos menores livros da bíblia, mas com um conteúdo muito amplo e denso. O fato de tratar de um assunto pouco citado na Bíblia faz dela uma carta singular. Primeiro porque é uma carta com um pedido. Não é uma carta com orientações teológicas ou exortações a manter a fé. Mas Paulo faz um pedido muito especial ao seu amigo Filemon. Mas é um pedido argumentado e fundamentado em questões espirituais e sociais. E isto tudo torna esta carta especial.
É o menor escrito de Paulo. Ainda que todos os seus escritos sejam, basicamente, cartas. Esta é a única dedicada a fazer um pedido, não a dar orientações. E, outro item interessante é que, apesar do assunto escravidão ser tratado em toda a Bíblia, porque desde os primórdios podemos ver a realidade da escravidão na Bíblia, inclusive pelo fato de o próprio povo judeu ter sido escravo no Egito e o maior acontecimento do Antigo Testamento (a saída do Egito) ter relação com a escravidão, este assunto sempre esteve sendo tratado de forma coletiva e impessoal. Nesta carta a Filemon (um senhor que tinha escravos), o assunto da escravidão é o centro da carta e o motivo do pedido de Paulo, que trata deste assunto, diretamente, nesta carta, trazendo as implincações práticas para um cristão quando este é senhor de escravos.
Paulo pede a seu amigo Filemon que liberte seu escravo Onésimo, não por força, mas por livre vontade, como que uma exigência na consciência que a nova fé trouxe a este senhor de escravos (vs. 14). Paulo diz que poderia até mesmo exigir esta atitude de Filemon, exigir que ele libertasse o escravo de sua propriedade, pois Paulo teria (na carta, ele não dia porquê) autoridade suficiente para exigir isso de Filemon. Mas prefere que isto seja uma atitude tomada de dentro para fora, vinda da consciência influenciada pelo Espírito Santo. Essa é a base do cristianismo. Em tempos onde as pessoas precisam de leis e de serem forçadas a fazer o bem (afinal, não deveria ser necessário uma lei para se dar o lugar para um idoso no ônibus, deveria ser algo da consciência de todos!), Paulo prefere confiar no poder do Espírito que age no interior da pessoa e deixar que a decisão seja feita voluntariamente por alguém que realmente dá ouvidos à sua voz interior e resolve obedecer aos princípios do evangelho em questões práticas da vida: afinal, o escravo havia sido comprado e era, no ponto de vista daquela época, um investimento e Paulo estava sugerindo ao Filemon abrir mão do seu investimento em nome de sua consciência e ter um prejuízo financeiro em nome de um ganho espiritual.
Seria mais ou menos hoje, uma questão de dizer o que um cristão convertido deve fazer se tiver um bar (por exemplo), como sua fonte de renda? O que devia, um cristão fazer, naquela época, se fosse senhor de escravos? Indo contra muito da religiosidade moderna que tenta se fazer passar por cristianismo, Paulo deixa claro que libertar seu escravo da condição de escravo, para mantê-lo junto também por voluntariedade a fim de juntos servirem ao Senhor Jesus era muito melhor.
O escravo Onésimo havia fugido do seu “dono” Filemon e, numa destas coincidências celestiais, havia conhecido o apóstolo Paulo, que era também amigo do seu senhor, Filemon. Converteu-se com Paulo e agora este o havia orientado a voltar para seu senhor. Mas envia esta carta (muito provavelmente pelas mãos do próprio Onésimo ao voltar para seu senhor, por orientação do apóstolo Paulo) pedindo que liberte seu escravo da condição de escravo, para servir a Jesus como um irmão em Cristo (vs. 15 e 16).
Paulo ainda diz a Filemon que gostaria de ter essa alegria do seu pedido atendido (vs. 20), como o próprio Filemon já havia alegrado a muitos cristãos com suas atitudes (vs. 7), sabendo que não negaria seu pedido, mas trazendo à memória o que o próprio Filemon talvez devesse a Paulo para reforçar seu pedido.
Então sabemos, ao olhar com atenção para esta carta-pedido de Paulo, que o melhor que temos a fazer quando somos Cristãos é obedecer à nossa consciência para fazermos o que Cristo nos ordena não por obrigação ou por força (vs. 14), como na orientação do profeta Zacarias do Antigo Testamento, que resume isso dizendo: “Não por força ou por violência, mas pelo meu espírito” (Zc 4: 6). Mas fazer por amor, sabendo que nossa recompensa é no céu, mesmo que isto nos traga prejuízos materiais nesta vida.
E lembrando ainda que o tema subjacente da escravidão presente nesta carta, podemos ver que os cristãos não eram a favor da escravidão, como Paulo demonstra aqui.





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