segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Daniel – o profeta do fim dos tempos


Os livros proféticos são dividos em 2 grupos nos estudos de teologia: Profetas Maiores e Profetas Menores. E, embora na maioria dos casos, isto esteja relacionado com o tamanho do escrito, em Daniel ocorre uma exceção. Jeremias, Isaías e Ezequiel são livros com aproximadamente 50 capítulos cada. Lamentações fica no grupo dos profetas maiores por ter sido escrito por Jeremias. Já Daniel, com seus 12 capítulos, fica neste grupo por motivos diferentes. Mesmo o livro de Oséias, no grupo dos profetas menores, tem 14 capítulos. O que não o torna maior que Daniel, onde cada capítulo é mais extenso. Mas o que faz este livro ficar no grupo dos profetas maiores são, basicamente, 2 motivos: o primeiro é o fato de o livro de Daniel tratar de um assunto tão singular e importante para os judeus, que é o exílio e, por isso, o livro de Daniel abrange um período da história de aproximadamente 70 anos. O segundo motivo é o fato de que no cânon Hebraico, os 12 livros dos profetas menores estão todos agrupados num único volume, considerando-se ser apenas 1 livro. Por isso, apesar do tamanho, Daniel fica de fora deste grupo.
Mas Daniel é um livro singular. No Antigo Testamento, é o livro que mais se aproxima da linguagem apocalíptica, encontrada no livro do Apocalipse, do Novo Testamento. As visões e profecias sobre o fim dos tempos é abundante no livro de Daniel. E, se lembrarmos que Deus usa o povo hebreu como um espelho, como um exemplo de sua ação para com todos os povos, é realmente notável que Daniel, ao relatar os fatos que ocorreram durante o exílio e o final deste, com seu retorno à terra prometida, refira-se também ao fim dos tempos e julgamento final. Porque o exílio é exatamente o julgamento do povo hebreu pelos seus pecados e o fim do exílio e o retorno à sua terra, representa o fim dos tempos e o retorno do povo de Deus ao céu, pelo arrebatamento. Em tudo isso, a semelhança e equivalência entre a história do povo judeu e de toda a humanidade se encontram em Daniel.
O livro de Daniel tem 12 capítulos e é claramente dividido em 2 partes. Nos primeiros 6 capítulos, conta-se a história de Daniel e seus amigos ao serem levados como prisioneiros pelo rei da Babilônia, Nabucodonosor, ao exílio na Babilônia. Estes primeiros 6 capítulos demonstram eventos extraordinários, que mostram o poder de Deus permanecendo ativo no exílio, e como Daniel e seus amigos conseguiram manter-se numa privilegiada posição de autoridade no reinado destes povos.
É importante lembrar que Daniel foi levado ao cativeiro muito jovem. Provavelmente um adolescente em torno dos seus 15 anos de idade. Embora a Bíblia não detalhe a idade dele, não devia ter mais de 20! E Daniel permaneceu no exílio durante os reinados de Nabucodonosor, Belsazar (filho daquele), Dario e Ciro. Ou seja, 4 reis passaram e Daniel permaneceu ali. Este período durou aproximadamente 70 anos! Então, o livro de Daniel conta uma história que abrange 70 anos, ou seja, todo o período do exílio do povo. Daniel foi o único que viveu e registrou todo o período. Jeremias, por exemplo, foi levado cativo também, esteve presente no início do exílio, mas já era de avançada idade e não permaneceu até o final. Outros, como Ageu e Zacarias, foram profetas mais novos, que iniciaram suas atividades já no período final. Mas Daniel foi o único que testemunhou a ida do povo judeu para o exílio e depois o início do seu retorno! Isso é realmente fantástico.
Mas a questão do tempo de duração dos eventos narrados no livro de Daniel nos leva a um outro aprendizado interessante. Muitos cristãos hoje, ao verem as abundantes provas do poder de Deus presentes neste livro e na vida de seu autor, imaginam um Deus que faz milagres todo mês, quiçá toda semana. Ao vermos tantos sonhos interpretados, visões, milagres como a fornalha ardente e a cova dos leões, somos tentados a pensar que estes fatos todos ocorreram na vida de Daniel num período curto, talvez durante 2 ou 3 anos de vida. Mas estes fatos estão espalhados num período de 70 anos! Ou seja, cada evento ocorreu num intervalo de 5 ou até 10 anos entre um e outro!
E isto não significa que Deus não seja atuante. Pelo contrário. É maravilhoso ver como, numa situação tão adversa de escravidão no exílio, pôde Daniel permanecer como um servo fiel durante tanto tempo e desfrutar e testemunhar do agir de Deus ao longo de todo este tempo.
Os primeiros 6 capítulos, conta sua vivência no palácio. Como chegou ali e recusou comer da comida do rei, mantendo sua santidade nas leis de alimentos da Torá. Como interpretou 2 sonhos de Nabucodonosor, um no capítulo 2, sendo um sonho profético para toda a humanidade, do que aconteceria nos próximos séculos de história (que foram já confirmados e totalmente cumpridos!) e outro, no cap. 4, sobre a vida do próprio rei, que também foi cumprido naquela mesma época. Além disso, interpretou uma visão de Belsazar, o filho de Nabucodonosor, quando já era rei (cap. 5). Também o fato ocorrido com ele na cova dos leões, já no reinado de Dario, o penúltimo rei com quem Daniel conviveu. Nesta época da cova dos leões, história conhecida narrada no cap. 6 de Daniel, o profeta já devia ter mais de 60 ou 70 anos de idade! Porque já estava no penúltimo reinado. Também nesta primeira parte do livro, cita o ocorrido com seus amigos, Sadraque, Mesaque e Abdenego, ao serem lançados na fornalha de fogo ardente por causa de sua fidelidade ao Deus dos hebreus e o grande livramento que Deus deu a eles por causa de sua fidelidade. E também há, nesta primeira parte do livro, por parte do Rei Nabucodonosor (nos caps. 3 e 4), o reconhecimento do poder do Deus dos judeus, quando Nabucodonosor reconheceu, publicamente e perante as autoridades e outros povos, a grandeza do poder de Deus. Ou seja, Deus continuava se manifestando, não apenas aos judeus, mas aos gentios, para demonstrar seu poder e sua grandeza. Os fatos nesta primeira parte do livro são narrados cronologicamente, demonstrando os 6 principais eventos, em sua relação com os reis daquela época. Um evento por capítulo. Portanto, se o período todo compreende 60 anos, foi aproximadamente um evento milagroso a cada 10 anos. Mas Daniel soube esperar, pelo agir de Deus, no tempo certo em cada situação.
A segunda metade do livro de Daniel, os capítulos 7 ao 12, são dedicados a contar as visões que Deus deu a Daniel, sobre os últimos dias. Estas visões começaram a ocorrer depois do reinado de Nabucodonosor, já no reinado de seu filho, Belsazar. São visões proféticas dadas a Daniel, e contam sua relação com Deus no recebimento e interpretação destas visões que falam sobre eventos futuros, muitos deles que ainda nem aconteceram.
Os 2 primeiros capítulos desta segunda parte (7 e 8) falam de visões proféticas que se referem tanto a acontecimentos já ocorridos quanto a acontecimentos que ainda irão ocorrer. No capítulo 9, versos 1 a 3, Daniel lembra que o tempo determinado por Deus para o fim do exílio era de 70 anos, conforme havia prometido por intermédio de Jeremias. E então, Daniel começa a orar e clamar pela libertação do seu povo, em cumprimento da promessa do próprio Deus e faz, neste capítulo, uma oração de arrependimento e reconhecimento pelos pecados do seu povo, pedindo perdão a Deus. Isso foi no início do reinado de Dario (primeiro ano), provavelmente, pouco tempo antes de ser lançado na cova dos leões, que também ocorreu durante o reinado de Dario, talvez não no primeiro ano, mas um pouco mais tarde.
Depois de sua oração, Daniel ainda aguardou. Passou-se todo o reinado de Dario. Iniciou-se o reinado de Ciro. Somente depois disto veio a libertação do povo de Israel. Nos capítulos 10 a 12, Daniel ainda narra visões e profecias, algumas para aquele tempo, outras para o fim dos tempos, os mesmos que são citados em Apocalipse.





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segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Isaías – Todo o propósito de Deus



O livro do profeta Isaías é o segundo maior livro da Bíblia com seus 66 capítulos, menor apenas que o livro de Salmos, que tem 150 capítulos. É o livro que mais cita profecias messiânicas, ou seja, sobre a vinda e vida do Messias, Jesus. É dividido em 2 partes, sendo os capítulos 1 a 39 voltados para o julgamento do Senhor para com Israel e as nações gentias. E o restante, do 40 ao 66, sendo voltado a trazer esperança e salvação para o povo, livramento e o julgamento final, para recompensar os justos e condenar os ímpios. Esta divisão natural do livro de Isaías leva-nos a uma outra curiosa característica deste livro: ele é como se fosse um resumo da Bíblia toda, uma espécie de Bíblia em miniatura. Não apenas por causa dos números, mas pelo conteúdo.
Assim, temos que Isaías contém 66 capítulos, o mesmo número de livros contidos na Bíblia toda. Também a primeira parte de Isaías tem 39 capítulos, o mesmo número de livros que contém o Antigo Testamento. A segunda parte de Isaías tem 27 capítulos, exatamente o mesmo número de livros do novo testamento.
Além disso, o livro de Isaías é um dos que apresentam uma diversidade de temas mais abrangente de todos os outros livros bíblicos, como se realmente quisesse trazer um resumo de todo o propósito de Deus, em todos os sentidos. E, por causa desta característica, fica mais difícil dividir o texto de Isaías em partes, pois os temas vão e voltam em todo o livro, como ocorre na Bíblia.
Portanto, na primeira parte do livro (caps. 1-39), temos a exigência de Deus para que se obedeçam à sua lei, as consequências advindas caso isso não seja observado, o julgamento de Israel e das nações por causa da injustiça, da desobediência, da maldade. Aliás, outra característica de Isaías é falar muito aos gentios, o que não é muito comum nos outros livros do Antigo Testamento, do cânon Hebraico. Mas, como a Bíblia é para todos os povos, para judeus e gentios, Isaías é um dos livros onde essa característica mais aparece, deixando claro que Deus é Deus de todos, não apenas dos judeus. Nesta primeira parte do livro, as exigências de Deus são claras e fortes. Tanto que logo no verso 2, do cap. 1, diz “Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim.”, e prossegue orientando que se se voltarem para Deus, se praticarem justiça e bondade, terão as bênçãos e o favor de Deus. Caso contrário, a condenação e o juízo. É o livro que mais faz mênção ao fato de os pecados nos afastarem de Deus, de nossas atitudes trazerem consequências ruins. De que devemos nos arrepender e mudar de atitude para sermos abençoados por Deus.
O juízo contra o povo, o “clero”, os legisladores e governantes, todas as categorias são avisadas em Isaías, demonstrando a universalidade do tratamento de Deus para com seu povo, muito bem resumido aqui em Isaías. Também a promessa de salvação, do Messias, do agir de Deus é universal e está bem resumida e clara aqui em Isaías, representando todo o propósito e agir de Deus, presente em toda a Bíblia.
Mas, ao mudar o foco na segunda parte do livro (caps. 40-66), já começa desta forma: “Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus”. E, a partir daqui, embora o juízo também faça parte do texto (como no Novo Testamento), fica claro que Deus, em pessoa, virá para salvar seu povo, visto que os homens não conseguiram granjear a própria salvação. A necessidade da intervenção de Deus fica clara nesta segunda parte, porque o homem falhou em cumprir todo o propósito de Deus e necessita de sua intervenção e de que Ele mesmo venha em sua salvação. Esta é a tônica da segunda parte do livro de Isaías. Logo no Cap. 40 fala de renovação de forças (como Jesus em Mt. 11: 28, por exemplo), que a própria presença de Jesus traria à humanidade, presente na Bíblia, no seu Novo Testamento. Aqui fala da restauração do próprio povo de Israel que, após ser levado cativo, receberia a libertação.
Podemos mesmo perceber uma surpreendente semelhança de alguns capítulos de Isaías com seus respectivos livros na ordem bíblica. O último capítulo (66) de Isaías, por exemplo, deixa claro o julgamento final e a salvação dos justos. Também a criação de novos céus e nova terra, principal assunto do Apocalipse, último livro da Bíblia. Alguns trechos são quase literalmente citados, como “Porque conheço as suas obras e os seus pensamentos” (Is 66: 18), muito semelhante ao texto presente nas cartas às igrejas do apocalipse.
Realmente, ler o livro de Isaías com muita atenção nos dá uma boa ideia do conteúdo da Bíblia como um todo. A abrangência dos assuntos em Isaías deixa claro que o julgamento é para todos. Os maus receberção a justa punição e os justos a recompensa. Também fala da necessidade de os homens cumprirem com sua obrigação, obedecendo à lei de Deus em tudo, com esforço e atenção. Mas também deixa claro que, ao falhar nesta missão, se houve sinceridade em buscar este objetivo, então o próprio Deus trará a Salvação (envia seu filho, Jesus Cristo). Isaías fala da criação, do renovo e do juízo final. Ou seja, abrange todo o propósito de Deus, em seus 66 capítulos, como a Bíblia, em seus 66 livros.





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