Marcos 15: 15 “Então Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou-lhe Barrabás e, açoitado Jesus, o entregou para ser crucificado”
A falta de convicções, de posicionamentos firmes e de força moral e divina para manter a verdade tem trazido a estes tempos modernos muita confusão. Procura-se agradar à multidão. E perde-se o objetivo correto, que é o de agradar a Deus, apesar da multidão.
Querendo
satisfazer a multidão. Pilatos não seguiu as evidências que
demonstravam que Jesus não tinha culpa. O testemunho e as provas
deixavam claro sua inocência. Que Pilatos lavou as mãos, tentando
isentar-se de culpa por condenar um inocente, nos conta outro
evangelho. Marcos nem cita isso porque, na verdade, não faz
diferença. Isso não isenta Pilatos da culpa. Ele cedeu à pressão
popular, manipulada pelos escribas e fariseus (Mc 15: 11). O povo, a
multidão, manipulado por alguns, condenaram um justo e escolheram um
ladrão para ser beneficiado pela “saidinha”, ou melhor, pela
soltura definitiva.
Essa cena
é um exemplo do que pode acontecer quando um líder (Pilatos) não
tem força suficiente para fazer o que é certo, mas precisa seguir
as circunstâncias e as pressões. Ele teve medo de iniciar uma
revolta, visto que o povo gritava para que ele crucificasse Jesus.
Talvez nem gritassem tanto assim, mas a Bíblia nos diz que os que
queriam que ele fosse crucificado gritaram “mais alto” que os
outros, que pediam sua soltura.
Essa cena
mostra o que acontece quando pessoas más intencionadas têm a
capacidade de manipular multidões, de influenciar pessoas simples e
fazê-las acreditar em meias verdades, que as levem a clamar por algo
que não é verdade. Pediram a crucificação de Jesus os mesmos que
apenas uma semana antes gritavam hosana ao filho de Davi, enquanto
Jesus entrava em Jerusalém. Talvez quisessem que ele tomasse o reino
de Herodes e, quando Jesus não o fez, talvez o povo tivesse ficado
decepcionado, talvez tivesse pensado “Ele nem é isso tudo que
pensávamos”. Não sabemos o motivo real que levou o povo a mudar
de ideia tão radicalmente em apenas 1 semana. A Bíblia não conta
este motivo. Mas podemos deduzir com razoável certeza de que esse
possa ter sido o motivo. Então podemos ver como é fácil induzir
alguém que está decepcionado. E como, quando não se faz o que
alguém quer, como um Jesus-Rei pode ser reduzido a um condenado a
ser trocado por um mero ladrão. Basta que não se faça o que as
pessoas querem. Mas Jesus estava certo. Pilatos, que fez o que o povo
queria, estava errado.
Daí,
discordo totalmente do ditado que diz: “a voz do povo é a voz de
Deus”. A democracia tem lá suas virtudes. Mas a história mostra
que nem sempre o povo, a multidão, os líderes e aqueles que detém
o poder, escolhem de forma justa e isenta.
A
influência da decepção, da influência de alguns, da manipulação
do pensamento, da fraqueza de caráter e de atitude de alguém em
posição de tomar decisões e muitos outros fatores podem facilmente
transformar o povo em voz do diabo. Assim, num piscar de olhos.
Jesus
mesmo, durante sua vida, teve momentos de dizer que seguir a ele era
difícil (carregar a cruz, beber do seu sangue e comer da sua carne,
passar pelos seus sofrimentos, ser perseguido, acusado injustamente).
O Senhor havia deixado bem claro as dificuldades de seguir a verdade,
de fazer o que é certo, de optar por seguir a Ele. Muitos, em muitos
momentos, o abandonaram por acharem difícil seguir tudo o que Ele
dizia. Muitos só queriam os pães da multiplicação. As bênçãos
fáceis. Nessa hora tinha cinco mil homens (fora mulheres e crianças)
ao seu lado. Na hora do comprometimento, ele só contava com uns
poucos 12, talvez 70.
Mas aí é
que está. Jesus não negociou com a verdade para satisfazer a
população, como fez Pilatos. Ele pagou o preço de se manter fiel à
verdade, à justiça. Chegou a morrer. Para perdoar os nossos
pecados, é verdade e esse é o propósito eterno de Deus. Mas, do
ponto de vista da justiça humana, Ele morreu, foi condenado, trocado
por um mero ladrão e assassino porque não negociou. Poderia ele ter
se defendido perante Pilatos e seria solto. Ele não procurou agradar
aos desejos de um povo mimado, que só busca os próprios interesses.
O povo
queria pão, Ele dava para mostrar a glória de Deus. Mas não fez
questão que os que só buscavam o pão o seguissem. Se o quisessem
fazer, teriam de carregar sua cruz. O povo queria abandonar ele,
porque achava difícil seguir o que Ele dizia. Ok. Podem ir. Para
complementar, ainda perguntava aos seus 12 mais próximos “vocês
querem ir também?” (João 6: 47-68). Jesus não negociou sua
mensagem, sua verdade, para agradar e manter uma multidão perto de
si. Não fez questão de ficar sozinho na crucificação, pois se
para manter alguns a mais perto de si tivesse que vender sua fé, sua
verdade, Ele não o faria. Ficaria sozinho, sem problemas.
Precisamos
de mais pessoas assim. Que mantém firmes suas convicções e nãos
as negociam por nada.
Isso vale
na hora de um voto, para não vendê-lo.
Isso vale
na igreja, para que um pastor não venha a aceitar o pecado, o roubo,
o adultério dentro de uma igreja, a fim de manter pessoas em sua
multidão particular de seguidores. Melhor é manter a verdade, mesmo
que o templo ficasse vazio. Mas hoje em dia a negociação em torno
do que é santo virou moda.
Para
agradar a multidão, Pilatos entregou Jesus para ser crucificado,
mesmo que visse que Ele não tinha culpa nenhuma. E vejam bem, Jesus
não tinha culpa. Para os criminosos e culpados, que haja o castigo.
Mas nada pode ser feito para agradar a multidão.
Jesus não
fez isso, não negociou. Pagou o preço por isso.
Sei bem o
que é pagar ao preço para não negociar as convicções. E, quando
as convicções têm bases sólidas e um lastro seguro, vale a pena
manter a posição, mesmo com perdas.
Como
pastor, já vi muitos pastores negociarem a permissão a pessoas de
poderem pecar para que não venham a se chatear e sair da igreja. São
Pilatos da vida por aí. Lavam as mãos, julgando que podem se
isentar de suas atitudes. Muitas vezes nem percebem, mas acabam
condenando o justo.
Que fique
bem claro. O perdão está presente aqui. Se uma pessoa comete um
erro e pede perdão, então isso é evangelho e deve ser praticado na
igreja. Não é disso que estou falando. Falo de pessoas que desejam
manter o pecado, que não se arrependem do pecado cometido. Para
agradar a esses, muitos líderes têm dado permissões exageradas.
Quando uma pessoa peca e se arrepende e deixa claro que se
conscientizou do seu pecado e que precisa mudar, toma atitudes para
corrigir seu erro, então o objetivo do evangelho foi atingido, como
aconteceu com Zaqueu (Lucas 19: 1-9).
Mas
quando a pessoa coloca justificativas para o seu pecado (como os
fariseus que condenavam a Jesus injustamente, como Pilatos que lavou
as mãos para dar a ordem da pena de morte), não se arrepende, fica
dizendo por aí que ninguém pode julgá-la (foi o que Pilatos fez,
“me considerem inocente da morte deste justo”), que todos são
pecadores e todo tipo de desculpa, mas não é capaz de reconhecer
seu próprio pecado, pedir perdão e se arrepender, tomando atitudes
para mudar seu comportamento, então está se levando pela multidão
de sofismas do diabo para jamais alcançar a salvação e ficar nas
trevas.
Tem
denominações, hoje em dia, que até mudam seu estatuto para
permitir o divórcio e recasamento, a fim de manter líderes em seu
rol de associados. Ora, existe perdão para todo pecado, inclusive o
divórcio. Mas ao invés da pessoa reconhecer que cometeu um pecado,
pedir perdão e tomar atitudes para corrigir seu pecado, prefere
mudar as leis, para atender seus propósitos pessoais, distorcendo a
lei.
A falta
de convicções, de posicionamentos firmes e de força moral e divina
para manter a verdade tem trazido a estes tempos modernos muita
confusão. Procura-se agradar à multidão. E perde-se o objetivo
correto, que é o de agradar a Deus, apesar da multidão.
Nesta
Páscoa, vamos pensar em quem queremos agradar. Se à multidão ou a
Deus. Escolher Jesus, em cada decisão, e não Barrabás.
Lucas Durigon
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