sábado, 26 de maio de 2018

Fé e obras


Fé e Ação
A fé é demonstrada pela ação, não apenas pela intenção.
Na bíblia, quando se fala em obras, encontramos 3 significados para esta palavra, cada qual com sua devida aplicação e explicação.
Obras da lei
O primeiro tipo é quando se fala em obras da lei. Paulo fala muito sobre isso em suas cartas. Por exemplo em Efésios 2: 8-9 diz “Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”
Este é o tipo de obras de que os judeus tanto se orgulhavam. Eles criam que, para serem salvos, bastava cumprirem com todos os requisitos da lei e a salvação estava garantida. Não viam necessidade de arrependimento, mas sim em um cumprimento de regras que se lhes assegurassem a salvação.
Exemplo disso está em: Mateus 23: 23 Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!
As obras, neste caso, são um tipo de ritualismo. Ou seja, cumprir com os rituais e exigências da lei mosaica seria a garantia da salvação para os judeus, exclusivamente as obras, sem uma fé interna. A isso, Paulo criticou e disse não ser possível obter salvação apenas com rituais externos, sem uma mudança de vida interior que seja fruto do arrependimento. Paulo ainda deixa claro (e Tiago corrobora) que é impossível se salvar pelas obras da lei, porque o “tropeço” em apenas 1 dos itens da lei significa não cumprir a lei e levar à condenação, o que nos leva a uma dependência da graça e da necessidade de uma mudança de vida interior que gere frutos de arrependimento, conforme disse João, o batista.
A esse tipo de obras, de apenas cumprir ritualisticamente as leis todos reprovaram. Jesus disse que não apenas o que diz Senhor, Senhor entraria no reino dos céus.
Obras como atitude
Este é o tipo de obras de que fala o apóstolo Tiago, dizendo que é necessário, para se confirmar a fé, que seja acompanhada das atitudes (obras) por parte daquele que tem a fé. Abraão creu na promessa de Deus e, quando o Senhor lhe pediu algo, não tardou em tomar atitude para cumprir o que Deus havia pedido. Tiago, quando diz que as obras precisam acompanhar a fé a fim de validar a salvação, não está falando das obras da lei, ou obras de caridade.
Tiago deseja esclarecer que a fé não pode, em outro extremo, ser um argumento interno que as pessoas usam para dizer serem fiéis a Deus se isso não gerar atitudes externas correspondentes. A isso, Paulo, Jesus, João (o batista) e tantos outros também concordaram, quando disseram que deviam gerar frutos dignos de arrependimento, ou seja, demonstrar atitudes que comprovassem aquilo que dizem ser a atitude interna.
Tiago deixa claro que não podemos ter uma fé que “apenas diga” que crê em Deus, se não for capaz de demonstrar por atitudes. Acreditar na existência de Deus, por exemplo, até os demônios acreditam, conforme diz Tiago. Nem por isso podemos dizer que isso seja fé ou que isso irá salva-los. Pelo contrário, estão condenados justamente pelo fato de, sabendo quem é Deus, não terem escolhido viver fieis a Deus.
Deus irá julgar as itenções, palavras, pensamentos e atitudes. E deve haver coerência entre todas essas partes. O que Tiago diz é que devemos ter atitudes que demonstrem nossa fé em Deus. Apenas dizer que se acredita em Deus qualquer um diz. Viver com atitudes que representem isso, já não é para todos.
Tiago usa os exemplos de Abraão e Raabe. Também nos informa o exemplo de não ajudarmos com atitudes aqueles que realmente precisam e termos uma atitude de apenas dizer algo quando o necessário é uma atitude mais concreta.
Obras de caridade
Embora este significado não esteja explícito na Palavra de Deus, o vemos quando por exemplo Jesus diz que para entrar no Reino do Céu, precisamos visitar presos e doentes, dar roupa e comida a quem necessita etc. Na verdade, este tipo de obra é uma extensão das outras duas, pois a lei dos judeus os ordena a ajudarem os necessitados e a lei de tomar atitude quando alguém necessita também chama a este tipo de atitude.
Quando a Bíblia fala de obras (seja nas palavras de Paulo ou nas de Tiago), não está falando deste tipo de obras (de caridade). Mas é o principal entendimento que a maioria tem quando lê na Bíblia sobre isso. A maioria pensa que é disso que a Bíblia está falando.
Porém, quando se fala em obras de caridade, temos no Brasil uma ideia errada referente ao que a Bíblia nos ensina sobre este assunto. Somos inclinados a acreditar que fazer este tipo de obra não é da vontade de Deus, pois outros tipos de religião e falsas doutrinas se apegam às obras de caridade como principal vantagem de sua doutrina.
No Brasil, temos o hábito de negar o fazer obras de caridade porque católicos e espíritas (e outras religiões) o fazem. E de onde surgiu esta idéia? De um entendimento errado sobre o que significa as “obras” da qual a Bíblia fala. Principalmente, quando Paulo fala que nossa salvação não vem de obras, muitos pensam que está falando das obras de caridade. Muitos até pensam que Paulo e Tiago se contradizem quando afirmam seus entendimentos sobre a fé e as obras. Paulo está dizendo quem ninguém se salvará porque cumpre com a lei e as regras estabelecidas. Tiago está dizendo que toda fé deve vir acompanhada de atitudes práticas e não apenas ficar na intenção.
Quando houve separação entre a igreja católica e a evangélica, no século XVI, durante a Reforma Protestante, Lutero publicou na porta da catedral onde ministrava, 95 teses a fim de colocar em discussão assuntos que a igreja cria serem indiscutíveis na época. Vários temas ele levantou e seu ponto central sempre foi a salvação pela fé. Muitos pensam, por isso, que Lutero era contra as obras de caridade. Mas veja as teses de número 42 a 46 que ele escreveu.
42. Deve ensinar-se aos cristãos que não é intenção do papa que se considere a compra de perdões em pé de igualdade com as obras de misericórdia;
43. Deve ensinar-se aos cristãos que dar aos pobres ou emprestar aos necessitados é melhor obra que comprar perdões;
44. Por causa das obras do amor, o amor é aumentado e o homem progride no bem; enquanto que pelos perdões não há progresso na bondade, mas simplesmente maior liberdade de penas;
45 Deve ensinar-se aos cristãos que um homem, que vê um irmão em necessidade e passa a seu lado para dar o seu dinheiro na compra dos perdões, merece não a indulgência do papa, mas a indignação de Deus;
46. Deve ensinar-se aos cristãos que – a não ser que haja grande abundância de bens – são obrigados a guardar o que é necessário para seus próprios lares e de modo algum gastar seus bens na compra de perdões.
Ele deixou bem claro que intencionava que os cristãos façam obras de caridade.
Mas a salvação, realmente vem pela fé. Mas só podemos atestá-la e ter certeza da existência da salvação na vida de alguém através das obras (atitudes) que demonstrem em sua vida a realidade interna de sua fé.
Mas isso significa ter atitudes coerentes com o momento, a necessidade e o alvo. Se no momento a atitude é uma palavra amiga e um abraço, que seja. Que se faça e não fique apenas na intenção. Se a atitude necessária no momento e que eu posso fazer é dar um prato de sopa ou um agasalho para alguém, que assim se faça. Quando eu não faço o que eu posso, mas fico discursando minha intenção, sem contudo agir, isso é uma fé morta, que Tiago diz, que não vale nada, pois somente a intenção não gera transformação. Precisa vir acompanhada de ação. O inferno mesmo, está cheio de boas intenções (que nunca foram acompanhadas de ações). Se o momento pede que eu defenda alguém que está sendo injustiçado e eu não faço, apenas digo que gostaria de ter feito (estando ao meu alcance fazê-lo), então a fé deve ser sempre demonstrada pela atitude que eu posso ter para demonstrar a minha fé.
Intenção, verdade de coração e atitude. Tudo junto em minha vida para manifestar uma verdadeira fé.

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