Fé e Ação
A fé é demonstrada pela ação, não apenas pela intenção.
Na bíblia, quando se fala em obras, encontramos 3 significados para
esta palavra, cada qual com sua devida aplicação e explicação.
Obras da lei
O primeiro tipo é quando se fala em obras da lei. Paulo fala muito
sobre isso em suas cartas. Por exemplo em Efésios 2: 8-9 diz “Porque
pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é
dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.”
Este é o tipo de obras de que os judeus tanto se orgulhavam. Eles
criam que, para serem salvos, bastava cumprirem com todos os
requisitos da lei e a salvação estava garantida. Não viam
necessidade de arrependimento, mas sim em um cumprimento de regras
que se lhes assegurassem a salvação.
Exemplo disso está em: Mateus 23: 23 Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e
do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da
Lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer
estas coisas, sem omitir aquelas!
As obras, neste caso, são um tipo de ritualismo. Ou seja, cumprir
com os rituais e exigências da lei mosaica seria a garantia da
salvação para os judeus, exclusivamente as obras, sem uma fé
interna. A isso, Paulo criticou e disse não ser possível obter
salvação apenas com rituais externos, sem uma mudança de vida
interior que seja fruto do arrependimento. Paulo ainda deixa claro (e
Tiago corrobora) que é impossível se salvar pelas obras da lei,
porque o “tropeço” em apenas 1 dos itens da lei significa não
cumprir a lei e levar à condenação, o que nos leva a uma
dependência da graça e da necessidade de uma mudança de vida
interior que gere frutos de arrependimento, conforme disse João, o
batista.
A esse tipo de obras, de apenas cumprir ritualisticamente as leis
todos reprovaram. Jesus disse que não apenas o que diz Senhor,
Senhor entraria no reino dos céus.
Obras como atitude
Este é o tipo de obras de que fala o apóstolo Tiago, dizendo que é
necessário, para se confirmar a fé, que seja acompanhada das
atitudes (obras) por parte daquele que tem a fé. Abraão creu na
promessa de Deus e, quando o Senhor lhe pediu algo, não tardou em
tomar atitude para cumprir o que Deus havia pedido. Tiago, quando diz
que as obras precisam acompanhar a fé a fim de validar a salvação,
não está falando das obras da lei, ou obras de caridade.
Tiago deseja esclarecer que a fé não pode, em outro extremo, ser um
argumento interno que as pessoas usam para dizer serem fiéis a Deus
se isso não gerar atitudes externas correspondentes. A isso, Paulo,
Jesus, João (o batista) e tantos outros também concordaram, quando
disseram que deviam gerar frutos dignos de arrependimento, ou seja,
demonstrar atitudes que comprovassem aquilo que dizem ser a atitude
interna.
Tiago deixa claro que não podemos ter uma fé que “apenas diga”
que crê em Deus, se não for capaz de demonstrar por atitudes.
Acreditar na existência de Deus, por exemplo, até os demônios
acreditam, conforme diz Tiago. Nem por isso podemos dizer que isso
seja fé ou que isso irá salva-los. Pelo contrário, estão
condenados justamente pelo fato de, sabendo quem é Deus, não terem
escolhido viver fieis a Deus.
Deus irá julgar as itenções, palavras, pensamentos e atitudes. E
deve haver coerência entre todas essas partes. O que Tiago diz é
que devemos ter atitudes que demonstrem nossa fé em Deus. Apenas
dizer que se acredita em Deus qualquer um diz. Viver com atitudes que
representem isso, já não é para todos.
Tiago usa os exemplos de Abraão e Raabe. Também nos informa o
exemplo de não ajudarmos com atitudes aqueles que realmente precisam
e termos uma atitude de apenas dizer algo quando o necessário é uma
atitude mais concreta.
Obras de caridade
Embora este significado não esteja explícito na Palavra de Deus, o
vemos quando por exemplo Jesus diz que para entrar no Reino do Céu,
precisamos visitar presos e doentes, dar roupa e comida a quem
necessita etc. Na verdade, este tipo de obra é uma extensão das
outras duas, pois a lei dos judeus os ordena a ajudarem os
necessitados e a lei de tomar atitude quando alguém necessita também
chama a este tipo de atitude.
Quando a Bíblia fala de obras (seja nas palavras de Paulo ou nas de
Tiago), não está falando deste tipo de obras (de caridade). Mas é
o principal entendimento que a maioria tem quando lê na Bíblia
sobre isso. A maioria pensa que é disso que a Bíblia está falando.
Porém, quando se fala em obras de caridade, temos no Brasil uma
ideia errada referente ao que a Bíblia nos ensina sobre este
assunto. Somos inclinados a acreditar que fazer este tipo de obra não
é da vontade de Deus, pois outros tipos de religião e falsas
doutrinas se apegam às obras de caridade como principal vantagem de
sua doutrina.
No Brasil, temos o hábito de negar o fazer obras de caridade porque
católicos e espíritas (e outras religiões) o fazem. E de onde
surgiu esta idéia? De um entendimento errado sobre o que significa
as “obras” da qual a Bíblia fala. Principalmente, quando Paulo
fala que nossa salvação não vem de obras, muitos pensam que está
falando das obras de caridade. Muitos até pensam que Paulo e Tiago
se contradizem quando afirmam seus entendimentos sobre a fé e as
obras. Paulo está dizendo quem ninguém se salvará porque cumpre
com a lei e as regras estabelecidas. Tiago está dizendo que toda fé
deve vir acompanhada de atitudes práticas e não apenas ficar na
intenção.
Quando houve separação entre a igreja católica e a evangélica, no
século XVI, durante a Reforma Protestante, Lutero publicou na porta
da catedral onde ministrava, 95 teses a fim de colocar em discussão
assuntos que a igreja cria serem indiscutíveis na época. Vários
temas ele levantou e seu ponto central sempre foi a salvação pela
fé. Muitos pensam, por isso, que Lutero era contra as obras de
caridade. Mas veja as teses de número 42 a 46 que ele escreveu.
42. Deve ensinar-se
aos cristãos que não é intenção do papa que se considere a
compra de perdões em pé de igualdade com as obras de misericórdia;
43. Deve ensinar-se
aos cristãos que dar aos pobres ou emprestar aos necessitados é
melhor obra que comprar perdões;
44. Por causa das
obras do amor, o amor é aumentado e o homem progride no bem;
enquanto que pelos perdões não há progresso na bondade, mas
simplesmente maior liberdade de penas;
45 Deve ensinar-se
aos cristãos que um homem, que vê um irmão em necessidade e passa
a seu lado para dar o seu dinheiro na compra dos perdões, merece não
a indulgência do papa, mas a indignação de Deus;
46. Deve ensinar-se
aos cristãos que – a não ser que haja grande abundância de bens
– são obrigados a guardar o que é necessário para seus próprios
lares e de modo algum gastar seus bens na compra de perdões.
Ele deixou bem claro que intencionava que os cristãos façam obras
de caridade.
Mas a salvação, realmente vem pela fé. Mas só podemos atestá-la
e ter certeza da existência da salvação na vida de alguém através
das obras (atitudes) que demonstrem em sua vida a realidade interna
de sua fé.
Mas isso significa ter atitudes coerentes com o momento, a
necessidade e o alvo. Se no momento a atitude é uma palavra amiga e
um abraço, que seja. Que se faça e não fique apenas na intenção.
Se a atitude necessária no momento e que eu posso fazer é dar um
prato de sopa ou um agasalho para alguém, que assim se faça. Quando
eu não faço o que eu posso, mas fico discursando minha intenção,
sem contudo agir, isso é uma fé morta, que Tiago diz, que não vale
nada, pois somente a intenção não gera transformação. Precisa
vir acompanhada de ação. O inferno mesmo, está cheio de boas
intenções (que nunca foram acompanhadas de ações). Se o momento
pede que eu defenda alguém que está sendo injustiçado e eu não
faço, apenas digo que gostaria de ter feito (estando ao meu alcance
fazê-lo), então a fé deve ser sempre demonstrada pela atitude que
eu posso ter para demonstrar a minha fé.
Intenção, verdade de coração e atitude. Tudo junto em minha vida
para manifestar uma verdadeira fé.
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